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Fruticultura: o Ceará poderá mirar-se no bom exemplo do Peru

E Porto de Fortaleza quase dobra capacidade de exportação de frutas com novas rotas


Missão empresarial cearense, liderada pelo consultor Carlos Matos, retornou de uma semana de viagem ao país andino, que há 10 anos exportava US$ 500 milhões em frutas e hoje exporta US$ 10 bilhões - De volta a Fortaleza e à dura realidade da agropecuária cearense, o consultor Carlos Matos, que liderou uma missão empresarial do Ceará ao Peru, defronta-se com a notícia de que, em 2024, o Nordeste todo terá um ano de seca. "Mas é na adversidade que se conhecem os fortes", diz Matos, repetindo um mantra japonês que ensina como superar obstáculos. 

Há apenas 10 anos, o Peru, que tem o tamanho do estado do Pará, exportava em frutas o equivalente a US$ 500 milhões. Hoje, essa exportação alcançou o patamar de US$ 10 bilhões - ou seja, dez vezes mais do que exporta a fruticultura brasileira.

Carlos Matos observou alguns aspectos da mudança por que passou e passa o setor da fruticultura peruana. Em primeiro lugar, a legislação. Foi necessário mudar a Constituição do Peru para que os pequenos produtores fossem guindados à categoria de proprietários rurais, donos de suas próprias terras. Depois, o empresariado uniu-se para importar a tecnologia que fez do país um dos maiores exportadores latino-americanos em produtos do agro. 

Mas o Peru já enfrenta problemas, como o da oferta de água para a irrigação, que se reduziu e do alto preço dos terrenos - um hectare, na zona rural peruana custa até US$ 100 mil. 

Além disto, há a cena política de hoje naquele país andino, que aponta para dificuldades que terá a iniciativa privada, impactando a sua fruticultura, que é grande produtor e exportador de uva, de mirtilo e de abacate, frutas que já se provaram de produção viável na região da Ibiapaba, no Ceará. 

"Essas dificuldades que começam a enfrentar os fruticultores peruanos são, do meu ponto de vista, prenúncios positivos para o Brasil, especialmente para o Ceará, que tem regiões onde o mirtilo e o abacate já se provaram, técnica e cientificamente, apropriados para o seu desenvolvimento, como é o caso da Chapada da Ibiapaba, onde essas duas culturas já recebem investimentos de agricultores cearenses", analisa Carlos Matos.

Por sua vez, o secretário Executivo do Agronegócio do Governo do Ceará, agrônomo Sílvio Carlos Ribeiro, que integrou a missão empresarial cearense, também aposta na viabilidade da cultura do mirtilo e do abacate na Ibiapaba. 

"É algo que já se mostrou viável tanto do ponto de vista agrícola quanto da biotecnologia. O solo ibiapabano é bom, já respondeu bem às primeiras experiências de cultivo das duas frutas, faltando agora que médios e grandes fruticultores invistam nesse negócio, que é altamente rentável, tendo em vista que o mirtilo e o abacate são produtos de alto valor agregado", comentou Sílvio Carlos Ribeiro. *Egídio Serpa/Diário do Nordeste/Fortaleza/CE - 13/12/2023. 

Missão do agro cearense esteve no Peru, que exporta US$ 10 bi em frutas - Em 25 anos, os fruticultores peruanos transformaram seu país num dos maiores produtores e exportadores mundiais de uva e mirtilo. Os cearenses querem copiar esse modelo

Uma missão empresarial cearense, liderada pelo consultor Carlos Matos, esteve desde segunda-feira em Lima, no Peru, cumprindo uma programação toda ela dedicada a contatos com empresas e empresários da fruticultura peruana.

O Peru produz e exporta anualmente em frutas o equivalente a US$ 10 bilhões; as exportações de frutas do Brasil não passam de US$ 1 bilhão. 

O time cearense, do qual fizeram parte o secretário Executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Sílvio Carlos Ribeiro, e o superintende do Senar-Ceará, Sérgio Oliveira, abriu sua programação reunindo-se com a Properu, a agência que promove e incentiva as exportações peruanas. 

O esforço exportador daquele país andino começou há 25 anos com uma mudança importante no texto de sua Constituição, que reconheceu a propriedade privada na zoina rural, beneficiando milhares de pequenos agricultores. Ao longo desses cinco lustros, as vendas das frutas peruanas para o mercado internacional foram sendo multiplicadas.

Carlos Matos posa com um cacho de uvas produzidas no Peru e destinadas à exportação. O Brasil pode copiar o modelo da fruticultura peruana - Foto: Divulgação

A produção de mirtilo, em regiões não tradicionais da fruta no Brasil, foi destaque também na RF, com matérias e artigos técnicos há cinco anos

Mirtilo, fruta de alto valor agregado, que a serra da Ibiapaba produz, é o segundo produto mais exportado pela fruticultura do Peru

A fruta mais exportada pelo Peru é a uva, com vendas que hoje chegam a US$ 1,5 bilhão; o mirtilo vem em seguida, com US$ 1,4 bilhão. As exportações de uva deverão crescer neste ano e em 2024, porque o governo do Peru acaba de abrir o mercado japonês para o seu produto.

Em seguida, a missão cearense reuniu-se com a Procitrus, uma associação que reúne empresas produtoras e exportadores de laranja, limão e tangerina, cuja produção ocupa 80 mil hectares, dos quais 11 mil são cultivados por associados da entidade.  
 
Ontem, houve um encontro com uma executiva brasileira que é diretora de compras de uma das grandes redes de supermercados do Peru, com 900 lojas, que abriu negociações para a possibilidade de importação de produtos cearenses - agrícolas e industriais. 

Também houve reunião com diretores da Provid, a entidade peruana que congrega 25 produtores de uva que operam uma área de 22 mil hectares.

Em mensagem a esta coluna, Carlos Matos informou que os fruticultores peruanos não aumentaram a área plantada, mas cresceram em produtividade graças a inovações tecnológicas, permitindo o desenvolvimento de novas variedades de uva. 

E o futuro é promissor para os fruticultores do Peru: está perto de ser inaugurado um novo porto marítimo, construído pela parceria da chinesa Cosco Shipping com a Volcan, uma mineradora peruana. Com esse porto, de grande profundidade, os navios, que hoje levam até 46 dias para navegar do Peru à China, levarão apenas 23 dias, pois serão eliminadas as escalas de transbordo na Califórnia e no México. Assim, as viagens serão diretas.

A missão empresarial cearense foi integrada por Carlos Matos - CEO da Trainer Dg, organizadora da viagem; Silvio Carlos  Ribeiro - secretário executivo do agronegócio do governo do Ceará; Sérgio Oliveira, superintendente do Senar-Ceará, representando a Federação da Agricultura (Faec); deputado Felipe Mota - da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa; Alcides Bonella, maior produtor de abacate do Brasil; Elmo Monte, prefeito de Varjota; Luiz Felipe Santiago, gerente Executivo do Projeto de Irrigação Jaguaribe-Apodi; e Oswaldo Yamanishi, especialista em produção de mirtilo e abacate. Os cearenses foram acompanhados pela Adida Comercial da Embaixada do Brasil no Peru, Ângela Peres.

A programação da missa empresarial do Ceará prosseguiu até quarta-feira. *Egídio Serpa/Diário do Nordeste/Fortaleza/CE - 06/12/2023. 

Porto de Fortaleza quase dobra capacidade de exportação de frutas com novas rotas - Londres e Roterdã estão entre os destinos; aumento de capacidade tem relação com nova área de arrendamento - O Porto de Fortaleza, conhecido também como Porto do Mucuripe, está com quatro novas rotas de exportação de frutas nesta safra de 2023/2024 (que vai de setembro a fevereiro). São elas: Londres, Roterdã, Le Havre (França) e Vigo (Espanha).

Recentemente, o equipamento também abriu no novo gate, chamado de corredor da fruta, ou seja, um portão exclusivo para embarque de frutas, que melhora o tráfego no entorno e atende às medidas de segurança e critérios de alfandegamento.

Melhorias no Porto do Mucuripe preveem maior capacidade de escoamento da produção - Foto: Igor Machado/CDC

O porto é reconhecido por escoar a safra principalmente de melão, da região limítrofe entre os estados do Ceará e Rio Grande do Norte, compreendendo as cidades de Icapuí e Mossoró e arredores.

Segundo Rinaldo Lira, coordenador de Gestão de Negócios da Companhia Docas do Ceará, autoridade portuária que administra o Porto de Fortaleza, a administração tem feito um grande esforço para captar investimentos e um exemplo disto é uma área de arrendamento voltada com exclusividade para a exportação da fruta.

"É importante salientar que o porto tem um histórico de escoamento de exportação das frutas para a Europa há mais de duas décadas, mas o que estamos fazendo agora é olhando para o futuro e trabalhando na nossa consolidação neste mercado."

Ele destaca que só com as ações pontuais feitas neste ano o volume da carga exportada quase dobrou no ano passado em comparação com 2022.

"Até pouco tempo atrás a nossa média de exportação de fruta em TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) era de 50 mil. Com o novo arrendamento dedicado ao terminal de contêineres de frutas, só esse ano (2023) já vamos movimentar algo próximo a 90 mil TEUs."

Lira também aponta que um plano de ação está sendo construído a médio prazo, para possibilitar um aumento ainda maior de carga exportada pelo local. 

"Estamos estruturando um novo arrendamento para o terminal de frutas que está em fase de estudos no nosso poder concedente, que é o Ministério de Portos e Aeroportos. Com isso, estamos falando de uma perspectiva de, em até 25 anos, atingir 300 mil TEU/ano em contêiner refrigerado que é o especializado para o transporte de frutas."

Melhorias de Logística - Por estar dentro da área urbana de Fortaleza, o coordenador de Gestão de Negócios da Companhia Docas revela que melhorias na infraestrutura de logística terrestre também estão sendo estudadas e projetadas.

Para um futuro próximo, ele cita a questão de pré-agendamento de caminhões e a construção de um pátio de caminhões e novos acessos (gates) "para evitar, realmente, o engarrafamento de um maior fluxo de caminhões dentro da cidade de Fortaleza". 

"O porto vem se estruturando, principalmente levando em consideração o fato de que somos um porto-cidade encravado dentro da malha urbana da região metropolitana de Fortaleza. Assim, precisamos prover eficiência para esse fluxo não impactar a região, por isso os estudos de novas ações." *Paloma Vargas/Diário do Nordeste - 02/01/2024

 

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