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Compostos bioativos da castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa)

Estudos revelaram que o consumo regular desta oleaginosa pode melhorar os lipídios e diminuir a lipoproteína de baixa densidade (LDL) e o colesterol de muito baixa densidade (VLDL)


A castanha-do-Brasil é um dos produtos mais importantes da América do Sul (PERES et al., 2003), é extraída da castanheira, árvore que cresce e frutifica em florestas naturais. A amêndoa na forma in natura é a principal fonte de renda para a população local da região amazônica, por consequência são comercializadas em quantidades significativas. Em 2019, o Brasil produziu 32.900 toneladas de castanha-do-Brasil, representando 11,1% dos lucros econômicos da exploração de recursos naturais vegetais (IBGE, 2019). 

Os frutos da castanheira são importantes para a formação econômica, social e política da Amazônia, entre outros produtos extrativistas, é um dos produtos mais comercializados no mercado interno e de exportação, ao mesmo tempo em que promove a conservação da floresta. O extrativismo beneficia comunidades da Amazônia e impulsiona economias regionais (SÁ et al., 2008; HOMMA, 2012).

O fruto da castanheira permanece na árvore por 15 meses. Em seguida, cai do topo da árvore, que pode atingir 45 m de altura, sendo uma das árvores mais altas da floresta amazônica. Isso significa que o fruto não é colhido da planta, mas do solo, onde pode permanecer por dias a meses com ampla oportunidade de interação com o meio ambiente. Vários estudos têm demonstrado que o solo é uma das principais fontes de contaminação fúngica da castanha-do-Brasil (ARRUS et al., 2005BAQUIÃO et al., 2013 ).

 

Estudos revelaram que o consumo regular desta oleaginosa pode melhorar os lipídios e diminuir a lipoproteína de baixa densidade (LDL) e o colesterol de muito baixa densidade (VLDL) (COMINETTI et al., 2012). De acordo com a Academia Nacional de Ciências (NAP), recomenda-se comer uma castanha por dia.  A FDA relatou em estudo que a ingestão diária de 43 gramas de nozes associada a uma dieta com baixo teor de gordura minimiza o risco cardiovascular (COLPO, 2014). As amêndoas possuem, proteínas, fibras, selênio, magnésio, fósforo e tiamina. Segundo  Chunhieng et al. (2004) a polpa da castanha-do-Brasil é composta por 70% de lipídios e 17% de proteína. Há também quantidades significativas de niacina, arginina, cálcio, cobre, ferro, zinco, potássio, flavonóides, selênio, vitamina E e B6.

As amêndoas contêm antioxidantes fenólicos, que podem efetivamente controlar o estresse oxidativo no organismo (JOHN & SHAHIDI, 2010). Conforme Cardarelli (2000) a castanha-do-Brasil possui valor econômico devido ao aproveitamento de suas amêndoas, que contêm cerca de 85% de ácidos graxos insaturados, visto que, 51% são de ácidos graxos monoinsaturados oleico e 34% de gorduras poli-insaturadas (SOUZA, 2013).

Os compostos bioativos presentes nos alimentos exercem efeitos benéficos à saúde atuando como antioxidantes, ativando enzimas desintoxicantes do fígado, bloqueando a atividade de toxinas bacterianas ou virais, inibindo a absorção de colesterol, reduzindo a agregação plaquetária e destruindo bactérias gastrointestinais prejudiciais (VOS et al., 2010). Segundo Costa & Jorge (2011) as amêndoas contêm ácidos fenólicos, flavonoides, tocoferóis, fitoesteróis e esqualeno. São fontes de carboidratos, ácidos graxos essenciais, minerais, vitamina E, arginina e fibras.

O selênio é um micronutriente que tem sido associado a risco reduzido de certos tipos de câncer, entretanto, a ingestão excessiva desse mineral pode levar à toxicidade. Entre os alimentos considerados fontes de selênio estão a castanha-do-Brasil, com níveis de selênio variando de 0,003 a 51,2 mg por 100 g-1 (FREITAS et al., 2008). O selênio é um nutriente essencial que desempenha função importante na biologia humana. Estudos apontam a relevância na área da saúde, como componentes de 25 selenoproteínas, que exercem funções indispensáveis no sistema imunológico, reduz infecções virais, é essencial para a fertilidade e reprodução, atua no metabolismo dos hormônios tireoidianos, previne doenças cardiovasculares e inflamações no organismo humano (RAYMAN, 2012).

As tortas como é conhecida as amêndoas quando processadas, possuem inúmeras possibilidades de aplicação, e são utilizadas para enriquecer diversos grupos de alimentos como, biscoitos, bebidas, cereais, confeitaria, chocolate, embutidos, farinhas, guloseimas, leite, panificação, salgadinhos e sorvetes. (SOUZA, 2004). Para Chang et al. (2016) as amêndoas possuem qualidades nutricionais e sensoriais, que proporcionam benefícios a saúde humana quando agregada a uma alimentação balanceada, são consumidas na forma in natura, torrada ou salgada. O óleo é usado na elaboração de produtos cosméticos e comestíveis (WADT & KAINER, 2009).

Existem vários métodos diferentes para a extração de óleos de castanhas, como prensagem, métodos sólido-líquido e fluido supercrítico, que são comuns na extração de óleos de frutos com propriedades secas (ALMEIDA, 2015). O óleo da castanha-do-Brasil apresenta 45,2% de ácido linoléico, 13.8% de ácido palmítico, 31,4% de ácido oleico, 8,7% de ácido esteárico (GUTIERREZ et al., 1997). 

*Jaqueline Gomes; Adriana Gomes Pereira da Silva; Fernando Moraes Machado Brito; Rogério Favareto; Marco Antônio Pereira da Silva-[email protected]

Referências: ALMEIDA, L. O. Extração do óleo essencial da manjerona para testes do controle de fungos em grãos de milho, 2015. TCC (Graduação em engenharia agrícola). Universidade Federal do pampa curso de engenharia agrícola. Alegrete, Rio Grande do Sul. Disponível em: <https://dspace.unipampa.edu.br/handle/riu/826> Acesso em: 26 de jun. 2022. ARRUS, K.; BLANK, G.; CLEAR, R.; HOLLEY, R. A.; ABRAMSON, D. Avaliação microbiológica e de aflatoxinas de vagens de castanha do Brasil e os efeitos das operações de processamento unitário.  Revista de proteção alimentar, v. 68, n. 5, p. 1060-1065, 2005. BALBI, M. E.; PENTEADO, P.T.P.S.; CARDOSO, G.; SOBRAL, M.G.; SOUZA, V.R.D. Castanha-do-pará (Bertholletia excelsa BONPL.): composição química e sua importância para saúde. Visão Acadêmica, v. 15, n. 2, p. 51-63, 2014. BAQUIÃO, A. C.; OLIVEIRA, M. M. M.; REIS, T. A.; ZORZETE, P.; ATAYDE, D. D.; CORREA, B. 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