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Aproximação do El Niño altera estratégias da agricultura para garantir produtividade na Serra

A previsão de uma primavera chuvosa obriga a administração de produtos como indutores de brotação em videiras e macieiras


Volumes de chuva acima do normal, frentes frias curtas e temperaturas amenas no inverno. Características de um fenômeno que acende o alerta da agricultura e há tempos não dava as caras no Rio Grande do Sul. A semana que iniciou gelada e encerra com clima de primavera é o indicativo de que o El Niño se avizinha e, de acordo com meteorologistas, tem condições de potencializar fenômenos comuns da próxima estação.

Na Serra gaúcha a atenção é para as possibilidades de maior ocorrência de granizo, chuvas densas em curtos espaços de tempo e geadas tardias. Os fenômenos, se não observados a tempo e tomadas as medidas necessárias, podem trazer prejuízo ao cultivo de frutas comuns da região como uva, pêssego, cáqui e maçã.

As temperaturas mais altas e o clima de abafamento são, segundo o meteorologista e coordenador do Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro-RS), Flávio Varone, a combinação perfeita para disseminação de doenças, principalmente em videiras.

- Ao contrário do ano passado que tivemos uma estiagem muito severa e extensa, a gangorra agora pendeu para o outro lado. A primavera por si só já é muito chuvosa e a previsão de um El Niño forte pode aumentar a capacidade de fenômenos mais adversos, intensos e frequentes - explica.

A preocupação dos agricultores é com o período de florescimento das plantas em um período em que o tempo seco é fundamental, inclusive para a polinização e fecundação das flores. Nas plantas, a ocorrência de fungos causados pela umidade e copas vigorosas que bloqueiam a entrada de sol podem ser evitadas com ações recomendadas pela Emater em encontros que já iniciaram com produtores.

- Ameixeiras e macieiras por exemplo, precisam de polinização cruzada, feitas por abelhas que com muita chuva e umidade alta não saem de suas colmeias. Além disso esse ano o agricultor pode precisar administrar indutores de brotação, racionar a adubação e realizar a poda mais tarde - destaca Enio Ângelo Todeschini, extensionista e engenheiro agrônomo da Emater regional de Caxias do Sul.

São medidas, segundo Todeschini, que devem ser adotadas para que sejam reduzidas as perdas na produção. As recomendações estão sendo informadas em rodadas de conversas que já iniciaram em Flores da Cunha e Farroupilha e irão ocorrer em data a ser confirmada no mês de setembro em Caxias do Sul. 

O produtor de uvas, Ricardo Boldrin, 56, está atento ao clima para dar início ao processo de poda das parreiras - Foto: Bruno Todeschini/Agencia RBS

De olho no céu para iniciar a poda - Em Flores da Cunha, na propriedade do enólogo e produtor de uvas Ricardo Boldrin, 56, a data para iniciar a poda já está definida: será na segunda semana de agosto, cerca de 20 dias mais tarde do que foi realizado no ano passado. A ideia é proteger os brotos, que aparecem logo após a poda, da possibilidade de geadas tardias ocasionadas pelo El Niño.

- O correto agora é fazer frio, mas se esquentar a planta vai começar a brotar. Se antecipar a poda estaremos sujeitos a geada tardia que queima o broto. Então, na minha visão, quanto mais retardarmos a poda melhor - afirma.

Se confirmada, a primavera chuvosa aumentará a umidade do solo e fará com que a planta ganhe vigor. Em decorrência disso, a Emater recomenda cautela na administração de adubos. No caso de Boldrin, a opção é por uma poda mais espaçada que garanta luminosidade à planta. As decisões, segundo ele, passam pela previsão do tempo e são tomadas de acordo com o clima.

- Vai depender muito do que vermos lá em cima (no céu). Esse ano vai ser um corre corre. Todo excesso de umidade favorece o fungo e depois que a doença entrar a produção fica comprometida. Temos que inclusive diminuir a adubação em função de um vigor por natureza. A concentração de folhas também é propícia  para doenças e o defensivo só age quando tem luminosidade - analisa. *Pedro Zanrosso/Pioneiro

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