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Embrapa leva agricultura de precisão ao cultivo de uva e possibilita diferentes vinhos da mesma plantação

Análise das plantas e do solo melhora a combinação das uvas e, consequentemente, a qualidade e palatabilidade da bebida


Pesquisa da Embrapa leva agricultura de precisão para a cultura da uva

Quem olha as grandes fileiras de videiras numa vinícola não consegue encontrar diferenças entre elas. Mas, sabendo o que procurar e usando os equipamentos necessários, é possível descobrir características distintas até entre plantas próximas.

Um estudo feito pela Embrapa Instrumentação de São Carlos (SP), em parceria com a Unesp de Botucatu e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) propôs introduzir a agricultura de precisão na cultura da uva e identificar essas diferenças.

Por meio de avaliação da umidade da planta, da porometria (que indica o quanto as folhas estão transpirando), do teor de clorofila e dos índices vegetativos, além da análise do solo, os pesquisadores identificaram plantas da mesma propriedade que produzem uvas com características diferentes e, consequentemente, dão origem a vinhos distintos.

Isso porque, a depender das condições do solo e das plantas, as uvas podem ter mais ou menos açúcares, ácidos ou compostos fenólicos. E mesmo a graduação alcoólica do vinho pode variar.

"A agricultura de precisão no sistema de produção de uva para vinho possibilita a avaliação de como a variabilidade ocorre no vinhedo, de como o solo varia, como a planta varia. Com isso, ao invés de colhermos as uvas todas de uma vez e fazermos uma fabricação de vinho, podemos colher uvas de diferentes partes, de diferentes subáreas e fazer uma fabricação de vinho em separado, com isso melhorar a qualidade ", explicou o pesquisador da Embrapa Instrumentação, Luis Bassoi.

O estudo abre caminho para a criação de produtos diferenciados, com maior valor agregado sem que seja necessário abrir novas áreas de plantio. Permite ainda uma melhor gestão da água e de fertilizantes. "Nossa ideia é trazer novos parâmetros para os produtores poderem alavancar seus produtos no mercado, que ainda tem muito preconceito com os vinhos nacionais. Temos produtos de alta qualidade", afirma Bassoi. 

Características do solo e da planta podem gerar vinhos diferentes em uma mesma propriedade - Foto: Pixabay

Vinhos diferenciados - O estudo acabou por mudar a forma de produção de duas vinícolas do interior de São Paulo.

Na vinícola Casa Verrone, propriedade que cultiva 15 hectares de uvas em Itobi (SP), os cientistas analisaram as videiras em duas áreas: uma mais úmida e outra em uma parte mais seca e perceberam que as uvas tipo Sirah apresentaram características diferentes, dependendo da área em que está da propriedade.

Com os resultados das análises, a área foi dividida entre a que proporcionava um alto e um baixo vigor vegetativo, que é o quanto a planta produz de biomassa, entre outras características bioquímicas e o vinho apresentou diferenças importantes no visual, paladar e aroma da bebida dependendo da área colhida.

"Ambos têm uma cor rubi, porém, mais delicada no vinho da área de alto vigor vegetativo e mais intensa no de baixo vigor. Enquanto no primeiro vinho eu consigo sentir no nariz frutas frescas, podendo levar esse vinho para envelhecer em barrica, no outro tenho um vinho para ser tomado mais jovem, em todo o seu vigor", compara a enóloga Isabella Magalhães.

Uva Syrah produzida pela Vinícola Terras Altas, em Ribeirão Preto (SP) - Foto: Divulgação/Vinícola Terras Altas

Na vinícola Terras Altas, que tem 32 mil pés de uva no distrito de Bonfim Paulista, em Ribeirão Preto, antes a bebida de uma safra era fabricada toda de uma vez, usando todos os frutos colhidos. Após avaliação da Embrapa, há várias colheitas separadas.

"Até então a gente colhia tudo ao mesmo tempo por uma média que a gente faz para verificar a qualidade do vinhedo, hoje é possível a gente colher de forma separada de acordo com a maturação", disse o diretor agrícola, Ricaldo Baldo.  A produção de dados mais específicos sobre a área plantada ajudou a melhorar a qualidade do vinho.

"Essa pesquisa tá nos ajudando a cuidar do vinhedo da melhor maneira possível. Ela nos indica o que a uva tá precisando e em que hora ela tá precisando para gente adequar. Dessa maneira, a gente pode colher uma uva com uma qualidade maior e vai refletir num vinho mais estruturado e mais equilibrado", afirmou a enóloga Luiza Tannure. *EPTV2/G1São Carlos/Araraquara

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