tecnologia

Grupo desenvolve corante natural à base de jenipapo

Substância é obtida em apenas 20 minutos e dispensa o uso de solventes tóxicos


Da classe dos corantes naturais, a pigmentação azul é a mais difícil de ser obtida em razão da escassez de fontes. Como consequência, a indústria utiliza massivamente produtos sintéticos, que podem ocasionar problemas de saúde. Tendo em vista essa dificuldade, pesquisadores do Laboratório de Tecnologia Supercrítica: Extração, Fracionamento e Identificação de Extratos Vegetais (Lasefi), da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, produziram um corante natural azul cuja base é o jenipapo, fruto nativo do Brasil. Natural, estável e de fácil obtenção, o produto foi patenteado e pode ser utilizado em diversos ramos da indústria, como a alimentícia e a de suprimentos.

Duas teses de doutorado deram origem ao novo corante. Junto aos orientadores Maria Angela A. Meireles e Eric Keven Silva, as pesquisadoras Maria Isabel Neves e Monique Strieder se debruçaram sobre a obtenção da coloração azul por meio de duas bases: o leite de origem animal e o leite de origem vegetal, eliminando a necessidade de solventes tóxicos e suprindo a lacuna por um colorífico vegano. "Existem duas classes de corantes: os naturais e os sintéticos, que atualmente são os mais produzidos. O diferencial do nosso produto é que é um corante natural obtido de produtos alimentícios", explica Strieder.

A pesquisadora também salienta que a obtenção da substância é rápida - o processo demora apenas 20 minutos - e o produto é mais barato que outros corantes naturais. "Como utilizamos o leite, animal ou vegetal, como solvente e também como fonte de aminoácidos e proteínas para formar o corante, o processo torna-se economicamente mais vantajoso e a aplicação é fácil, uma vez que o líquido pode ser colocado diretamente no produto. Fizemos aplicações em alimentos, como doces e bolos, e o resultado é muito bom."

Três etapas em apenas uma fase - A equipe de pesquisadores descobriu que, além de servir como base para a extração da molécula precursora do corante a partir do fruto, o leite propicia a reação que resulta nos compostos de coloração azul. Outra etapa em linha é a estabilização e o aumento de temperatura, pasteurizando o corante e aumentando sua vida útil.

"Geralmente é utilizado o etanol ou a água para a extração da genipina [substância encontrada no jenipapo] e nós usamos o leite, que tem as proteínas necessárias para reagir com o composto do jenipapo. Aperfeiçoamos esse processo no sentido de usar o próprio solvente  para a reação que sintetiza os compostos de coloração azul. Além disso, utilizamos um processo que vai promover a extração e a inativação de microrganismos, resultando em um tratamento de pasteurização", diz Neves. 

 

Da esquerda para a direita, Maria Angela A. Meireles, Eric Keven, Maria Isabel Neves e Monique Strieder (Foto: Antoninho Perri)

A obtenção do pigmento natural azul era um objetivo da professora Meireles desde meados dos anos 2000. Ela havia obtido o corante a partir de uma alga, a ficocianina. "O problema é que ela altera o aroma e funciona apenas com alguns tipos de alimento. A vantagem desse processo [com o jenipapo] é que podemos ter desde um azul muito tênue até um azul forte, e o sabor do corante é muito sutil",  observa. Meireles ainda destaca o fato de o jenipapo trazer benefícios à saúde, além de agir como corante. Outra vantagem, segundo a docente, é que o excedente do fruto pode ter outras aplicações. "A fonte vegetal pode ser trabalhada para a produção de diferentes produtos, eliminando aquela ideia de 20, 25 anos atrás, de que uma matéria-prima poderia ser fonte de um só produto." 

Eliminando riscos à saúde - Apesar de a legislação brasileira permitir o uso de diversos corantes sintéticos, as organizações internacionais, segundo o professor Silva, restringem sua utilização devido aos danos que podem causar à saúde. "Em longo prazo, corantes sintéticos contribuem para o desenvolvimento de alergias que podem gerar doenças mais graves. A tendência é que haja cada vez mais restrição aos sintéticos, abrindo mais espaço para os naturais", aponta.

Por isso, a equipe espera que o corante azul natural possa logo ser adotado pela indústria. "O nosso desejo é que a tecnologia chegue ao mercado, porque entendemos que ela é importante e pode contribuir para a saúde da população, principalmente das crianças, que estão sendo muito expostas aos corantes sintéticos."

Patente internacional - A patente internacional do corante azul do jenipapo foi publicada em dezembro de 2020 e realizada pela Agência de Inovação Inova Unicamp. O produto patenteado é o corante em sua forma líquida. No entanto, testes com a técnica de secagem por atomização (spray drying), bastante utilizada na indústria, já foram realizados para a obtenção da substância em pó e foram bem-sucedidos. 

Desde que a patente foi obtida, os pesquisadores ainda descobriram que o corante possui atividade antimicrobiana. É mais um benefício do produto, que também resiste a tratamentos térmicos intensos e diferentes pH's. As características singulares do novo produto viabilizam sua aplicação em diversos tipos de alimentos, cosméticos, suprimentos e fármacos. 

*Unicamp - *Liana Coll/Fotos Antoninho Perri/Edição de imagem Paulo Cavalheri -

Jenipapo: o que é, para que serve e como fazer o suco - Descubra benefícios e formas de consumo desse fruto originário da Mata Atlântica

Rico em fibras e vitaminas, o jenipapo é um fruto originário do jenipapeiro, árvore nativa da Amazônia e Mata Atlântica, mas que também pode ser encontrada na região do cerrado. 

Suas propriedades nutricionais trazem diversos benefícios ao corpo humano, com características terapêuticas e até medicinais. O fruto pode ser consumido tanto ao natural, como em forma de doces, suco ou licor.  

Origem do jenipapo - Segundo a nutricionista Thais Bevilaqua Mourão, o jenipapo pertence à família botânica das Rubiáceas, uma das espécies frutíferas encontradas no Cerrado, que chega a ter 15 metros de altura. Dentre elas, destaca-se a Genipa Americana L, originária da América Central, mas disseminada por regiões tropicais úmidas das Américas, Ásia e África, e popularmente conhecida como jenipapo ou jenipá. Originário do tupi-guaraní, o nome jenipapo significa 'fruto que serve para pintar', "pois da polpa do fruto verde se extrai um líquido que ao entrar em contato com o ar, oxida e vira uma tinta azul e preta que os índios pintam objetos", explica a nutricionista. 

Características - De coloração marrom, Thais afirma que o jenipapo é um fruto de casca fina, mole, solta, enrugada e murcha. Sua polpa possui cor parda, de sabor um pouco adocicado, com odor bem característicos e com sementes pequenas, fibrosas e achatadas. O fruto pode chegar, em média, a 9 cm de comprimento e 6 cm de diâmetro, com formato oval. Sua colheita acontece em setembro ou março na região Norte do País, ou de novembro a dezembro na região Centro-Sul.

"Sua polpa é suculenta, aromática, comestível e com sementes no centro", destaca Thais Bevilaqua. 

Para que serve - Ainda conforme a especialista, o jenipapo é rico em ferro, cálcio, fósforo, vitaminas B1, B2, B5 e C. Também possui uma boa quantidade de fibras, tornando um alimento interessante para quem sofre de prisão de ventre

Com vários benefícios à saúde, destaca ela, pode ser utilizado como fortificante e estimulante do apetite. Ajuda a combater problemas relacionados à anemia, por ser uma ótima fonte de ferro, icterícia doenças do baço e do fígado.

Além disso, é ótimo para amigdalite, diarreia, doenças venéreas, sífilis, úlcera e vômitos, além de ser muito indicado para melhorar a circulação sanguínea e problemas dos rins. 

Uso como laxante - "Por consequência da grande quantidade de fibras presente no jenipapo, muitas vezes é utilizado como laxante. Também tem-se visto utilização do jenipapo em forma de xarope, para pessoas que sofrem com bronquite e asma", explica. 

Outra vantagem, conforme Thais Bevilaqua, é que ele ajuda no controle das plaquetas do sangue, por isso é muito utilizado por pessoas que estão passando por sessões de quimioterapia.

"Do seu tronco, pode-se fazer um chá indicado para tratar úlceras e faringite. Por conter bastante vitamina C e ser um poderoso antioxidante é capaz de proteger o corpo contra gripes e resfriados". 

Como consumir - Uma característica positiva sobre o consumo do Jenipapo é que todas as partes do fruto podem ser aproveitadas, segundo a nutricionista.

É possível, por exemplo, usar a raiz para preparar o chá que atua como laxante. A casca tem ação diurética, e as sementes podem ser utilizadas no preparo do suco.

O fruto pode ser consumido tanto de forma in natura, como de diferentes formas. Entre elas, como xaropes, compota e doces, como, por exemplo, a jenipapada, feito de jenipapo misturado com açúcar sem ir ao forno, sorvetes, sucos, geleias, licor e vinho. 

Suco e licor - O consumo do jenipapo como suco e licor está entre as formas de uso mais comum. Confira abaixo duas receitas da nutricionista Thais Bevilaqua.

*Thais Bevilaqua Mourão é nutricionista graduada pela Universidade Estácio e possui atuação em nutrição clínica e esportiva. **Diário do Nordeste/Renato Bezerra

Comentários