Laren amplia área de atuação a partir de 2025
Laboratório público, com tradição no exame de amostras de uva e bebidas derivadas, instalado em Caxias do Sul, passará a analisar a qualidade e a segurança de frutas e hortaliças produzidas e consumidas no Estado
Parâmetro internacional na análise de derivados da uva e do vinho, o Laboratório de Referência Enológica Evanir da Silva (Laren), vinculado ao Departamento de Defesa Vegetal da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi), em Caxias do Sul, abriu uma nova frente de atuação. Trata-se da análise de qualidade e segurança de frutas e hortaliças cultivadas no Rio Grande do Sul e consumidas pela população gaúcha. O exame será realizado para conferir a existência de resíduos de agrotóxicos nestes alimentos. O laboratório aguarda apenas a conclusão do processo de validação da metodologia de análise. O trâmite da acreditação ocorre junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e ao Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).
"Tivemos uma auditoria do Inmetro ainda durante dezembro", revela Fabíola Boscaini Lopes, chefe da Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal. Segundo ela, o credenciamento deverá estar concluído em 2025. Hoje, no Rio Grande do Sul, existem somente dois laboratórios certificados pelo Mapa para realizar as análises. Um dos empreendimentos, localizado em Viamão, é privado. O outro, público, pertence à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). "Para a nossa demanda, é importante termos mais laboratórios. Muitas vezes, temos que mandar amostras para outros estados, pois dependendo do produto, não é analisado no Rio Grande do Sul", explica a fiscal agropecuária.
Foto: Paulo Ricardo Dias da Silva/Afagro/CP
Fabíola salienta que, em razão do transporte em longas distâncias, a amostra, muitas vezes, chega aos locais de destino sem condições de ser avaliada. Conforme a Seapi, além da verificação no setor da vitivinicultura, o Laren também contribui hoje com a "constatação de fraudes, resíduos e contaminantes em produtos de origem vegetal".
O "monitoramento" das frutas e hortaliças, como Fabíola classifica a operação realizada no momento para constatar a presença de herbicidas, foi iniciado em propriedades que cultivam morango, nos municípios de Bom Princípio e Feliz, no Vale do Caí. Dez fiscais estaduais agropecuários e cinco analistas agropecuários florestais estão envolvidos com a iniciativa. "Estamos visitando produtores para orientar a respeito da legislação de agrotóxicos, verificar o atendimento às normas e coletar amostras. Coletamos os morangos que estão prontos para a entrega, que sairão no dia da coleta na propriedade para comercialização ou que estão armazenados nas câmaras frias", relata a fiscal estadual agropecuária Gabriela França de Lima. "É como se o produto estivesse na gôndola do supermercado. Fazemos assim para garantir a rastreabilidade. Se der algum problema, a gente consegue retornar à propriedade", acrescenta Fabíola.
A cadeia do morango foi a escolhida como projeto-piloto por atender aos critérios definidos pela fiscalização para atividade, considerando a metodologia disponível, a importância do alimento na economia e na dieta gaúcha, a predisposição do produto à contaminação, o histórico de incidência da presença de defensivos na fruta e a demanda da sociedade civil. A expectativa é que, futuramente, as coletas sejam ampliadas e contemplem outros cultivos como, por exemplo, o tomate. De acordo com Fabíola Lopes, as ocorrências mais frequentes são de uso de agrotóxicos não permitidos para as culturas analisadas ou aplicação do produto químico em volume acima do permitido.
Em 2023, o Laren passou a analisar folhas em plantas de cultivo sensível a herbicidas hormonais (2,4-D), com contaminação decorrente da deriva desses agrotóxicos. "Os produtores aplicam herbicidas hormonais na soja, por exemplo, e, em razão da aplicação não correta, muito vento no período de aplicação ou mesmo as condições meteorológicas, o agrotóxico pode ir para os lindeiros, para os vizinhos, atingindo culturas que não são o alvo", detalha a chefe da divisão. Entre as culturas prejudicadas, a fiscal salienta as de uva, noz pecã, maçã e, em geral, hortifrutigranjeiros. "Começamos essas análises em cima dessas folhas, pois estávamos recebendo denúncias", diz Fabíola, lembrando que o Rio Grande do Sul foi o primeiro Estado do Brasil a ter normativas para regrar o uso de herbicidas.
Fabíola esclarece que a deriva ocorre tanto em aplicação aérea quanto terrestre. "Muitas vezes, na hora de aplicar, o produtor não verifica a condição do vento ou do bico de aplicação, que tem de ser específico para herbicida hormonal", afirma. "É cientificamente comprovado que a deriva pode ser evitada", destaca. A fiscal agropecuária realça a importância de o agricultor utilizar produtos registrados para a cultura e respeitar o prazo de carência, que é o tempo entre a aplicação do agrotóxico e a colheita. *Matéria do Correio do Povo/RS/Rural/Poti Silveira Campos - 29/12/2024.